ROBOTIC ENGLISH TRANSLATION



* * * PENSAMENTO DO MÊS * * *


Tudo o que é belo morre no Homem, mas não na Arte.

Leonardo da Vinci


* * * FRASES MUSICAIS AO ACASO * * *


La Musique avant tout.

Paul Verlaine


* * * Para ver correctamente todas as postagens deste BLOG,
é conveniente instalar previamente no seu PC
os tipos de fontes musicais MusiQwik * * *


IR DIRECTO AOS COMENTÁRIOS DESTE POST.

terça-feira, novembro 28, 2006

Aceita esta Valsa
(Take this Waltz)



Em Viena há dez mulheres belas.
Há um ombro onde a Morte vem chorar.
Há um átrio com novecentas janelas.
Há uma árvore onde morrem as pombas
quando já não conseguem voar…

Há um pedaço arrancado à manhã
suspenso na Galeria Gelada…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
apesar da boca amordaçada.

Ah, eu quero, quero, quero ver-te
numa cadeira, lendo um jornal sem cor…
Numa gruta na ponta de um lírio,
num atalho onde não foi o amor…

Numa cama onde a Lua suou,
num grito de areia e pegadas…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
cinge-a pela cintura quebrada…

Esta valsa, esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com o seu hálito de brandy e Morte,
arrastando a cauda no mar…

Há uma sala de concerto em Viena,
onde a tua boca mil vezes cantou…
Há um bar onde os jovens se calam
porque o blues à Morte os condenou…

Ah, mas quem ousa escalar o teu retrato
com a coroa de lágrimas que acabou de tecer?
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
há tantos anos que ela anda a morrer…

Há um sótão onde brincam as crianças,
breve lá nos amaremos, tem de ser…
num sonho emoldurado por lanternas húngaras,
na neblina doce de um entardecer…

E verei que à tua tristeza acorrentaste
o teu rebanho e os teus lírios de neve…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com um “não te esquecerei, sabes?”, breve.

E dançarei contigo em Viena
e hei-de ir disfarçado de rio,
um jacinto selvagem no ombro,
e minha boca, lenta, bebendo
nas tuas coxas o orvalho frio.

E sepultarei a alma num velho livro
entre o musgo, lembras-te?, e as fotografias…
e à cheia da tua beleza lançarei
o meu violino barato e a cruz
onde me crucifico todos os dias…

E dançando haverás de levar-me
aos lagos que te brotam dos pulsos…
Meu amor, meu amor,
aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa…
É tua agora. E é tudo.

[ Traduzido e adaptado de Take this Waltz de Leonard Cohen]

* Aspásia 94 *

sábado, novembro 25, 2006

HOJE NA ANTENA 2

DIA ESPECIAL WAGNER - O ANEL DO NIBELUNGO

Grav. Radiodifusão da Baviera, Bayreuth, 26 a 31 de Julho de 2006



  • CLIQUE PARA OUVIR
  • (Pode ser necessário desactivar previamente programas de segurança instalados no seu PC.)

    10:00

    O Ouro do Reno * Falk Struckmann e Ralf Lukas (B/BT). Clemens Bieber e Arnold Bezuyen (T). Kwangchul Youn (B/BT). Jyrki Korhonen (B). Andrew Shore (B/BT). Gerhard Siegel (T). Michelle Breedt (MS). Satu Vihavainen (S). Mihoko Fujimura (CA). Fionnuala McCarthy e Ulrike Helzel (S). Marina Prudenskaya (MS). Orq. do Festival de Bayreuth. Dir. Christian Thielemann
    13:00 WAGNER
    A Valquíria * Endrick Wottrich (T). Kwangchul Youn (B). Falk Struckmann (B/BT). Adrienne Pieczonka e Linda Watson (S). Michelle Breedt (MS). Satu Vihavainen e Amanda Mace (S). Martina Dike (MS). Janet Collins (CA). Irène Theorin (S). Wilke te Brummelstroete, Annette Küttenbaum e Alexandra Petersamer (MS). Orq. do Festival de Bayreuth. Dir. Christian Thielemann
    17:00 WAGNER
    Siegfried * Stephen Gould e Gerhard Siegel (T). Falk Struckmann e Andrew Shore (B/BT). Jyrki Korhonen (B). Mihoko Fujimura (CA). Linda Watson e Robin Johannsen (S). Orq. do Festival de Bayreuth. Dir. Christian Thielemann
    21:15 WAGNER
    O Crepúsculo dos Deuses * Stephen Gould (T). Alexander Marco-Buhrmester (BT). Hans-Peter König (B). Andrew Shore (B/BT). Linda Watson e Gabriele Fontana (S). Mihoko Fujimura (MS). Janet Collins (CA). Martina Dike (MS). Irène Theorin, Fionnuala McCarthy e Ulrike Helzel (S). Marina Prudenskaya (MS). Coro e Orq. do Festival de Bayreuth. Dir. Christian Thielemann

    quarta-feira, novembro 22, 2006

    DIA DA MÚSICA... E DA CALÚNIA

    COMEMORA-SE HOJE, NA HAGIOGRAFIA CATÓLICA, O DIA DE SANTA CECÍLIA, PADROEIRA DA MÚSICA.

    TENDO SIDO ALVO, NESTE DIA, DE UMA CALÚNIA FEITA POR UM CONHECIDO COMENTARISTA DO BLOG "MURCON" DO PROF. JÚLIO MACHADO VAZ, OCORREU-ME RECORDAR ESTA ÁRIA, DE LETRA PROFUNDAMENTE FILOSÓFICA.

    FIQUEM BEM.





    O baixo inglês Robert Lloyd interpreta Don Basilio, em "O Barbeiro de Sevilha" de Gioacchino Rossini com libretto de Cesare Sterbini.

    1988, Radio Symphony Orchestra, Stuttgart.
    Maestro: Gabriele Ferro.


    O BARBEIRO DE SEVILHA

    1º ACTO - 2º QUADRO


    No interior da casa de Bartolo, Rosina mostra-se decidida a ter Lindoro. Em sua brilhante ária Una voce poco fa, ela diz que é doce, respeitosa, obediente, mas, se contrariada, torna-se ardilosa como uma víbora.

    Entra Bartolo, acompanhado do mestre de música Don Basilio, que o adverte sobre o facto de que o Conde Almaviva, rival na disputa pela mão de sua pupila, se encontra em Sevilha. Bartolo decide apressar o seu casamento com Rosina, e Basilio aconselha-o a lançar mão da difamação e abrir um escândalo em torno do seu rival, para dele se livrar. Na ária La calunnia è un venticello, Basilio explica como a calúnia vai naturalmente se expandindo, até explodir como um tiro de canhão.
    Fígaro, que, por acaso, ouviu secretamente a conversa, adverte Rosina sobre o plano. Dizendo-se primo de Lindoro, compromete-se a entregar a carta que ela escreveu para Lindoro (dueto Dunque io son).

    Intrigado, Bartolo tenta fazer Rosina confessar ter escrito a carta para o seu suposto pretendente, e resolve adverti-la a não tentar passá-lo para trás (A un dottor della mia sorte). Almaviva irrompe pela casa, disfarçado de soldado bêbedo. A confusão inicia-se quando Bartolo questiona a ordem de designação do oficial. Em seguida, chega a polícia, disposta prender o intruso (La forza, aprite qua), mas Almaviva secretamente revela sua verdadeira identidade ao oficial, que o liberta, deixando pasmados todos os presentes. No genial ensemble que encerra o Primeiro Acto, todos se mostram confusos e agitados (Freddo ed immobile).

    segunda-feira, novembro 20, 2006

    Play it Back Again, Carlos!

    PARABÉNS, MEU QUERIDO CARLOS PAIÃO, POR 25 ANOS DE PLAYBACK

    Carlos... foste demasiado cedo... e eras apenas 20 dias mais novo do que eu...

    De todas, a minha preferida sempre foi "Pó de Arroz"...

    Que saudades desse pozinho na face das pequenas como eu... que tu (en)cantavas!!!

    * Pó de Arroz *
    Carlos Paião





    Beijos para ti, Carlos.

    quinta-feira, novembro 16, 2006

    Saramago e a Música

    Parabéns, José Saramago, pelo seu 84º aniversário hoje celebrado.


    Passarola

    Como se sabe, a Música ocupa um lugar importante na sua Vida e na sua Obra.

    Recordemos um excerto de "O Memorial do Convento" - ao som do cravo de Domenico Scarlatti.

    * Allegro da Sonata para Cravo em Fá Maior K525 *
    Domenico Scarlatti


    "- Parecem jogos de palavras, as obras, as mãos, o som, o voo...
    - Disseram-me, padre Bartolomeu de Gusmão, que por obra dessas mãos se levantou um engenho ao ar e voou, Disseram a verdade do que então viram, depois ficaram cegos para a verdade que a primeira escondeu, Gostaria de entender melhor, Há doze anos que isso foi, desde então a verdade mudou muito, Repito que gostaria de entender, Que é um segredo, A essa pergunta responderei que quando imagino, só a música é aérea, Então iremos amanhã a ver um segredo, [...] A amargura é o olhar dos videntes, senhor Domenico Scarlatti, Um dia se há-de pôr isso em música, senhor padre Bartolomeu de Gusmão.

    No dia seguinte, cavalgou cada um a sua mula e foram a S. Sebastião da Pedreira.
    Na sua frente estava uma ave gigantesca, de asas abertas, cauda em leque, pescoço comprido, a cabeça ainda em tosco, por isso não se sabia se viria a ser falcão ou gaivota, É este o segredo, perguntou, Este é, até hoje de três pessoas, agora de quatro, aqui está Baltasar Sete-Sóis, e Blimunda não se demora, anda na horta. [...]

    Domenico Scarlatti aproximou-se da máquina, que se equilibrava sobre uns espeques laterais, pousou as mãos numa das asas como se ela fosse um teclado, e, singularmente, toda a ave vibrou apesar do seu grande peso, cavername de madeira, lamelas de ferro, vime entrançado, se houver forças que façam levantar isto, então ao homem nada é impossível, Estas asas são fixas, Assim é, Nenhuma ave pode voar sem bater as asas, A isso Baltasar responderia que basta ter forma de ave para voar, mas eu respondo que o segredo do voo não é nas asas que está, E esse segredo não o posso saber eu, Não posso dar mais que mostrar o que aqui se vê, Já isso basta para que eu agradeça, mas, havendo esta ave de voar, como sairá, se não cabe na porta.
    Baltasar e o padre Bartolomeu Lourenço olharam-se perplexos, e depois para fora. Blimunda estava ali, com um cesto cheio de cerejas, e respondia, Há um tempo para construir e um tempo para destruir, umas mãos assentaram as telhas deste telhado, outras o deitarão abaixo, e todas as paredes, se for preciso.

    O padre Bartolomeu Lourenço foi encostar uma escada à passarola. Senhor Scarlatti, se quiser ver por dentro a minha máquina de voar... Subiram ambos, o padre levava o desenho, e lá dentro, andando sobre o que parecia um convés de barco, explicou as posições e funções das diversas partes, os arames com o âmbar, as esferas, as lamelas de ferro, repetindo que tudo actuava por atracção mútua, mas não falou do sol nem do que haveriam de conter as esferas, porém o músico perguntou, Que coisa atrairá o âmbar, Talvez Deus, em quem toda a força mora, respondeu o padre, O âmbar atrairá que coisa, O que estiver dentro das esferas, Esse é o segredo, Sim, esse é o segredo, É mineral, vegetal ou animal, Não é mineral, nem vegetal, nem animal, Tudo é mineral, ou vegetal ou animal, Nem tudo, há coisas que o não são, a música, por exemplo. Padre Bartolomeu de Gusmão, decerto não quer dizer-me que estas esferas vão conter música, Não, mas tenho de pensar nisso, afinal pouco falta para que me erga eu ao ar quando o ouço tocar no cravo, É um gracejo, Menos do que parece, senhor Scarlatti.

    Entardecia quando o italiano se retirou. O padre Bartolomeu Lourenço passaria ali a noite [...]. À despedida, disse, Senhor Scarlatti, quando o enfadar o paço, lembre-se deste lugar, Lembrarei, por certo, e, se com isso não perturbar o trabalho de Baltasar e Blimunda, trarei para cá um cravo e tocarei para eles e para a passarola, talvez a minha música possa conciliar-se dentro das esferas com esse misterioso elemento [...].

    *****

    José Saramago, decerto que a Música da sua Palavra e da sua Escrita já chegou às esferas...

    *****



    * A1 - Reportagem esta manhã, em directo de Azinhaga, berço de José Saramago (10 m) *


    *****



    Alguns links de interesse:

    A Ópera "Ensaio sobre a Cegueira"

    Saramago no Cinema e no Teatro


    Conferência aquando da entrega do Prémio Nobel em 1998 (42 m)